quinta-feira, junho 08, 2006

E agora, Mané? 2

Vou botar fogo nessa merda. Nem entro no salão imperial e vou direto ao banheiro. Arranco com cuidado a tampa que protege o magna-rolo de papel limpa cu. Há opções vartiadas mas opto pelo trivial arrancar fitas longas e amassar em bolas fofas (precisa ser fofa senão o inflamar é dificultado. Não tem nada de gay nisso). Encho o lixo e depois vou amontoando sobre o vaso. Outro vaso. Este está mais limpo que o de casa. Dona Margarida cuida bem da privada alheia. Não dá pra dizer o mesmo da própria. Chegar perto da moça é o mesmo que adentrar os pântanos perdidos de Shungaróvia, onde a merda perdeu-se das pregas.
Tendo organizado minha fogueira dionisíaca, acendo o isqueiro e aproveito a chama pra inflamar meu belo e branco cigarro. Por vezes penso que Freud enlouqueceria fundo estes polacos mal-dotados. Alemães gostam de morenos avantajados, isso é de conhecimento geral. Bem sabe o Camargo, meu chefe e feitor. Diz que é casado e ninguém nunca viu a mulher. Diz que come todas e nunca avançou nas estagiárias. Fala que é macho mas quando toma café estica o mindinho. Viado, só pode ser.
Aproximo a chama dos papéis afofados quando sou obrigado a me interromper. Merda. Não a minha, mas a de alguém que entra apressado no banheiro e quase arranca minha porta antes de conseguir uma vaga ao lado. O barulho vem acompanhado daquele cheiro de quinze defuntos apertados dentro de um fusca. Se fosse no cinzeiro seria piada de judeu. Se fossem elefantes seria outra piada. Mas não vem ao caso. Hoje eu não estou pra rir. Muito menos pra sofrer. Penso se devo apagar o isqueiro. Pode ser que o ambiente exploda. Gás metano em excesso.
- Wilson, você não tinha parado de fumar?
- E você não tinha parado de comer essas merdas de noite? Ninguém aguenta seus peidos de feijão.
- Eu gosto de tex-mex.
- Então muda pra fronteira e vai viver com o Cormac McCarthy.
- Quem?
Gerson é um songa monga de tanga mas é meu amigo. Apago o isqueiro e jogo fora o cigarro e vou até a pia. Lavo as mãos e me olho uma vez mais no espelho. As olheiras continuam ali. Preciso para com os esportes solitarios. Apesar da satisfação de sempre vencer, tem o negativo que sempre pratico mais do que devia. Não uso cuecas slip por isso. Judia das assaduras.
- Cara, ontem eu fui num restaurate do caralho. Tinha um monte de menininha de olho do papai aqui.
- Elas não estavam de olho em você. É que sua barriga ocupa toda a paisagem.
- Que é isso. Estou de regime. Já perdi dois quilos desde a semana passada.
- Pena que perdeu da barriga pra bunda.
- Vai almoçar onde?
- Estava planejando comer em casa. Mas um idiota me atrapalhou.
- Vamos comer na churrascaria no Centro Civico? Na Devons?
- Vamos no Recanto Gaúcho. É mais barato e tem menos babacas.
- A gente se encontra no estacionamento. Meio-dia.
- Onze e meia.
Coloco o paletó no encosto da cadeira e olho para a tela do computador. Consulto a memoria e vejo que andaram mexendo. Odeio isso. Devem ser os estagiários. Se gostam tanto assim de pornografia, porque não pesquisam a deles?
Puxo alguns processos pra perto do monitor e abaixo a cabeça. Se tiver sorte, ninguém percebe que esotu dormindo. Se tiver azar, estou trabalhando demais mesmo.
Johnny me acorda chacoalhando meus ombros.
- Filha-da-puta! Vai incomodar a mãe!
- O prédio tá pegando fogo, cara. A gente precisa sair.
Na rua, fico sabendo que tudo começou no banheiro.
- É esse pessoal que fuma escondido - digo. Ainda bem que parei de fumar. Essa merda mata.
Chamo Gerson e vamos para o centro passear e tomar um sorvete e depois comer uns doces na Confeitaria das Famílias. Correr perigo me dá fome.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

poderia passar o resto do dia lendo mas tenho que estudar
=]

10:54 AM  

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