O que aconteceu com a gente, Joey?
Qualquer dia desses compro uma passagem pra Bangladesh e vou entender o que aconteceu com George Harrison. Para os da minha geração o Concerto para Bangladesh foi o primeiro Live AID. Nada tão estrombótico, sem estádio, sem transmissão via Tv. Acho que foi no Madison Square Garden, em uma tarde de sábado, cheio de gente ainda tentando requerer para si o advento de um novo mundo - melhor, mais forte, mais rápido - sem saber que Steve Austin já detinha a primazia da frase (ou terá sido Oscar Goldmann?). O certo é que era uma tarde e um anoitecer, cheio de velhos hippies e alguns novatos, cheirando a baseado e dançando em batas que atrapalhavam os movimentos do spés. Não eram poucos os que sorriam imaginando que ali estava a faísca a renascer o flower power. Pobres mortais alucinados. Nem Timothy Leary estava mais nessa. Depois da família Manson, os adoradores das viagens astrais e defensores de Don Juan (ah, velhos porteiros das portas da percepção) tornaram-se meros garotos sentados em escadas de concreto, em grupo, discutindo rock e baladas enquanto queimam a última ponta. Acho que era 1972, ou 1974, ou qualquer outro ano por perto, que interessa. O caso é que já estavam rondando o CBGB os New York Dolls e já tinha um magrelo alto, de salto agulha e paetês e plumas, andando desengonçado pelas vias próximas e imaginando se Ramone seria um bom nome ou apenas um espirro de seu murcho cérebro tomado de boletas. Ah, bons tempos, não se lembra Joey? A gente andava como se fosse gente grande e discutia livros e altas voltagens musicais. Indignados que os babacas do rock psicodélico se achavam os tais enquanto supunham que nós, garotos perdidos do Brooklin, que nem tínhamos namoradas, servíamos apenas de bucha de canhão a babar na platéia embevecida. Afinal, Joey, como fomos parar nesse show do George Harrison e, pior, o que eu estou fazendo agora, pensando se vale a pena ir para esse paiseco asiático procurar algo que parece que perdi entre a adolescência e a vida adulta?
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