segunda-feira, setembro 18, 2006

um baixista

Nunca entendi todo o foguetório em torno dos guitarristas mas concordo que eles acabam sempre assumindo o centro das atenções, que estão sempre a tocar cheios de pose, fazendo caras e bocas, procurando sempre alcançar as notas mais impossíveis, as combinações mais inusitadas, o ineditismo, a novidade. Dever ser esse mesmo o problema deles: o compromisso com a performance. Isso nunca dá certo.
Repare no baixista.
Ah! um baixista deve ser algo muito agradável de se ter sob os lençóis. Ele sempre é um cara discreto. O baixo fala pelo seu nome. É baixo. Quer coisa mais interessante do que um homem que não precisa gritar para se fazer ouvir e entender?
Baixo tem tudo a ver com o ritmo. Tem um não sei quê de forte, de resistente, constante. Aquele som grave e pulsante parece acompanhar o ritmo natural do corpo e parece assim não precisar fazer força alguma para nos colocar no mesmo ritmo dele. Acontece.
Ando imaginando um homem assim, um baixista. Ele certamente me dirá como devo me mover. Imagino um homem de mãos grandes e fortes, capaz de manter o ritmo por muito tempo e o melhor de tudo, capaz de manter minha ilusão de que fui eu quem o escolheu, mesmo estando eu aqui, a esperar sua próxima nota.