Advogados
Elomar e Regina sofrem de incontinência urinária. Sendo casados, arranjaram um apartamento com banheiros contíguos.
- Você sabe como salvar cinco advogados que estão se afogando?, grita Elomar. Não? Ótimo!
Arrumando o tapete aos seus pés, Regina tira da garganta um catarro incômodo e abre as pernas e vê batendo na água a gosma branca.
- Porque cobras não picam advogados? Ética profissional.
Após anos sendo obrigado a correr ao banheiro e abrir o zíper, sendo que várias vezes não deu tempo, Elomar jaz sentado no trono branco e forrado de veludo cotelê.
- Como você sabe que um advogado está mentindo? Seus lábios estão se mexendo.
É a dinâmica da vida. Os sons dos líquidos rompendo o empuxo superficial e misturando-se em um processo quase místico no qual o calor se perde transformado em frio e os cícrculos concêntricos perdem-se nos choques uns contra os outros (a experiência e o tempo gasta torna os preciosismos da observação algo banal).
- Quantos advogados é preciso para trocar uma lâmpada? Quantos você pode pagar?
Elomar ouve e dá uma risada muda. Respira fundo, ao que REgina percebe e descobre que o que diz tem o efeito desejado e acrescenta antes que o marido possa algo dizer.
- O que é preto e marrom e fica bom em um advogado? Um doberman.
Elomar, Elomar, com a cueca abaixo dos joelhos e os cotovelos apoiados nas coxas, pensa e pensa e por pouco não deixa escapar um sólido antes de gritar com a voz rouca:
- Por que Minas tem mais advogados e São Paulo mais depósitos de lixo tóxico? São Paulo escolheu primeiro.
O modo como o marido diz as consoantes alerta REgina que realmente está em vantagem. E para não perdê-la, diz quase em sussurro:
- O que advogados usam como controle de natalidade? A personalidade deles.
Elomar está transpirando e o suor pinga da testa para as bochachas cobertas pela barba mal feita. E a ansiedade aumenta um tanto a mais quando quase repete um mesmo dito e, por sorte, consegue conter-se a tempo e emendar um belo dito. Feito um Camões contemporâneo, não diz, recita:
- Qual a diferença entre um advogado e um juiz de boxe? O juiz não recebe mais por uma luta mais longa.
Mas a musa é mulher e sendo mulher privilegia aquelas de sua categoria:
- Como foi inventado o fio de prata? Dois advogados discutindo por uma moeda.
E uma vez mais, comprovando minha fala anterior, as musas tornam-se mais que generosas e passam à histeria vendo como Elomar titubeia sem encontrar verbo ou linha a qual seguir para dar conta das douradas estrofes troadas por Regina:
- Qual a diferença entre uma cobra venenosa e um advogado? Você pode fazer da cobra um bicho de estimação. Qual a diferença entre um advogado e um peixe-gato? Um vive nas profundezas se alimentando do lixo, o outro é um peixe. Qual a diferença entre um advogado e uma sanguessuga? A sanguessuga irá embora quando sua vitima morrer.
Mas se as musas são mulheres, o diabo é homem e, assim sendo, não abandonaria um confrade quase entregue à igniminiosa derrota. Com um lance de inspiração que daria inveja ao deus do futebol Garrincha, Elomar fratula sonoramente e assusta a esposa que, deste modo, sabe que as correntes da vitória podem estar sendo reviradas e suas velas murcharão tão velozmente quanto inflaram:
- Qual a diferença entre uma pulga e um advogado? Um é um parasita que suga o seu sangue até o fim; o outro é um pequeno inseto. O que você tem quando cruza um advogado com um bibliotecário? Toda a informação que você precisa - mas você não vai entender uma palavra do que ele disser. Você está em um quarto com Fernando Collor, PC Farias e um advogado. Você tem um revólver, mas só duas balas. Em quem você atira?
No advogado duas vezes.
E soa a descarga em eco e os dois levantam e apenas um deles faz uso do papel higiênico. Por um momento se encaram sem parede a os separar e, antes que Musas e Demônio se digladiem, Eros inteveem e dita que antes da lei existe o amor. Calça erguida e saia amarrada, seguem de mãos dadas pelo corredor até a sala na qual deve atender o responsável pela OAB seção Paraná, aflito pois as contas da Ordem estão desorganizadas e apenas bons contadores poderão dar conta.
- Você sabe como salvar cinco advogados que estão se afogando?, grita Elomar. Não? Ótimo!
Arrumando o tapete aos seus pés, Regina tira da garganta um catarro incômodo e abre as pernas e vê batendo na água a gosma branca.
- Porque cobras não picam advogados? Ética profissional.
Após anos sendo obrigado a correr ao banheiro e abrir o zíper, sendo que várias vezes não deu tempo, Elomar jaz sentado no trono branco e forrado de veludo cotelê.
- Como você sabe que um advogado está mentindo? Seus lábios estão se mexendo.
É a dinâmica da vida. Os sons dos líquidos rompendo o empuxo superficial e misturando-se em um processo quase místico no qual o calor se perde transformado em frio e os cícrculos concêntricos perdem-se nos choques uns contra os outros (a experiência e o tempo gasta torna os preciosismos da observação algo banal).
- Quantos advogados é preciso para trocar uma lâmpada? Quantos você pode pagar?
Elomar ouve e dá uma risada muda. Respira fundo, ao que REgina percebe e descobre que o que diz tem o efeito desejado e acrescenta antes que o marido possa algo dizer.
- O que é preto e marrom e fica bom em um advogado? Um doberman.
Elomar, Elomar, com a cueca abaixo dos joelhos e os cotovelos apoiados nas coxas, pensa e pensa e por pouco não deixa escapar um sólido antes de gritar com a voz rouca:
- Por que Minas tem mais advogados e São Paulo mais depósitos de lixo tóxico? São Paulo escolheu primeiro.
O modo como o marido diz as consoantes alerta REgina que realmente está em vantagem. E para não perdê-la, diz quase em sussurro:
- O que advogados usam como controle de natalidade? A personalidade deles.
Elomar está transpirando e o suor pinga da testa para as bochachas cobertas pela barba mal feita. E a ansiedade aumenta um tanto a mais quando quase repete um mesmo dito e, por sorte, consegue conter-se a tempo e emendar um belo dito. Feito um Camões contemporâneo, não diz, recita:
- Qual a diferença entre um advogado e um juiz de boxe? O juiz não recebe mais por uma luta mais longa.
Mas a musa é mulher e sendo mulher privilegia aquelas de sua categoria:
- Como foi inventado o fio de prata? Dois advogados discutindo por uma moeda.
E uma vez mais, comprovando minha fala anterior, as musas tornam-se mais que generosas e passam à histeria vendo como Elomar titubeia sem encontrar verbo ou linha a qual seguir para dar conta das douradas estrofes troadas por Regina:
- Qual a diferença entre uma cobra venenosa e um advogado? Você pode fazer da cobra um bicho de estimação. Qual a diferença entre um advogado e um peixe-gato? Um vive nas profundezas se alimentando do lixo, o outro é um peixe. Qual a diferença entre um advogado e uma sanguessuga? A sanguessuga irá embora quando sua vitima morrer.
Mas se as musas são mulheres, o diabo é homem e, assim sendo, não abandonaria um confrade quase entregue à igniminiosa derrota. Com um lance de inspiração que daria inveja ao deus do futebol Garrincha, Elomar fratula sonoramente e assusta a esposa que, deste modo, sabe que as correntes da vitória podem estar sendo reviradas e suas velas murcharão tão velozmente quanto inflaram:
- Qual a diferença entre uma pulga e um advogado? Um é um parasita que suga o seu sangue até o fim; o outro é um pequeno inseto. O que você tem quando cruza um advogado com um bibliotecário? Toda a informação que você precisa - mas você não vai entender uma palavra do que ele disser. Você está em um quarto com Fernando Collor, PC Farias e um advogado. Você tem um revólver, mas só duas balas. Em quem você atira?
No advogado duas vezes.
E soa a descarga em eco e os dois levantam e apenas um deles faz uso do papel higiênico. Por um momento se encaram sem parede a os separar e, antes que Musas e Demônio se digladiem, Eros inteveem e dita que antes da lei existe o amor. Calça erguida e saia amarrada, seguem de mãos dadas pelo corredor até a sala na qual deve atender o responsável pela OAB seção Paraná, aflito pois as contas da Ordem estão desorganizadas e apenas bons contadores poderão dar conta.
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