terça-feira, maio 30, 2006

Para Andréa

Sabe, não te chamo de amiga pois me soa gay. Homem chamar mulher de amiga é a tal perversão de valores darwinianos. Milhões de anos lutando por gens sortudos o bastante para sobreviver à seleção natural e chegarmos ao sexo e do sexo à tal da guerra conjugal para, neste momento da humanidade, revirar tudo com palavras que expressam a relação possível como sendo casual e sem mais conseqüências (como o encontro de dois amigos para beber cerveja e falar de futebol). Não, jamais amigas, talvez queridas, amadas, adoradas, vertentes de minha alma caiadas pelo branco ardente. Mas divago, desculpe. O que me traz a te falar é uma percepção súbita. E como súbita foi, subitamente digo: Minha ocupação é pensar, meu trabalho é escrever, meu talento deveria bem traduzir em palavras os pensamentos que me traem. Por isso, e apenas isso, não me preocupa publicar, tornar visível ao mundo as corrupções de meus íntimos valores. Jamais analistas, jamais psicólogos, jamais confessores de batinas intumescidas com meus delírios de grandeza e erotismos de caserna. Meus horrores e dores sonhadas me são como o amor perdido na adolescência pois nunca confessado.
Mudando para algo totalmente diverso, me sinto traído nestes últimos dias. Onde stão os textos que me prometeu, com teus sonhos e dores, horrores e verdades, cinismos e deslizaes, regras de computador sob os olhos distantes de quem vive em São Mateus do sul do sul de tantas almas perdidas e jamais encontradas. Apenas porque sonhas com o norte. Aquela terra distante, afogada em lagos e programas de televisão e cinema de baixo custo? Canadá? O que é isso? Um país jamais deveria receber nomes oxítonas. Ok, o significado tem valor. Kah-neesh-edat: névoa que não se desfaz. E é nessa obscuridade que pretende se perder? Eu entendo a globalização. Li Chomsky, e acho que entendi. A pós-modernidade fracassou nas artes tornando-se pura diversão e o comércio venceu. Deixemos a pesquisa para a ciência. Que a arte volte a ser ocultismo delirante. Foda-se a busca do espírito despida de religiosidade. Hoje é o holismo cientologista (nem vou citar o ator besta que leva o estandarte). Hoje nosso destino é ser palestino em um Israel globalizado. Nossa guerra é a guerra do desdespero existencial, no qual seremos todos derrotados pois o inimigo somos nós mesmos. E neste cotexto, de que adianta ir para o norte? Se bem que, na terra da névoa que não se desfaz, quem sabe desça sobre ti uma bluma tão intensa que, oculta de si mesma, esqueça ter um espírito e ele adormeça.

Cornélio

ps. há tempos leio pouco pois me acostumei com a riqueza de meus pensamentos e o fracasso de meus textos.

segunda-feira, maio 29, 2006

frase do dia

Bundas, apesar de não serem privilégio de poucos, continuam surpreendendo quando aparecem súbitas e desnudas frente aos meus olhos.


A arte não deve oferecer respostas, caso assim fosse, programas de auditório deveriam ser gravados e estocados no porão do Louvre.