Quando sua vida estiver sem graça, seus amores tiverem ido embora, suas finanças forem à ruína, seu carro estragar, seu trabalho tornar-se um sacrifício diário, sua avó ligar dizendo que não está nada bem e precisa que você vá atendê-la, sua melhor amiga ficar chatíssima, ou pior, muito mais interessante do que você, seu cachorro estiver carente, seus vizinhos estiverem olhando feio por conta do condomínio atrasado e até o moço que pede trocados no sinal te olhar com um certo ar de piedade, não desanime. Há solução.
Lembre-se de como era ser adolescente nos anos 90. Você vestia calça xadrez e camisas de flanela. Enormes, ambas. Por alguma razão, a tecnologia se encarregava de diminuir o tamanho de tudo, exceto dos tênis. Os tênis eram imensos, inspirados nos modelos dos jogadores de basquete. Usava-se tênis enormes e coturnos desconfortáveis. Você tinha um colar esquisito pendurado no pescoço. Andava com a pasta da faculdade embaixo do braço o dia todo e nem mesmo carregava bolsa - porque bolsa para os grunges era inadmissível. Você protestou em praça pública contra o Collor. Você assistiu a Anos Rebeldes e acreditou pelo menos durante o período da mini-série que poderia mudar o mundo. Achou um clube bem escuro, sujo, fedido e superalternativo e fez dele a sua segunda-casa. Fez uma turma de amigos muito modernos e engraçados. Tomou altos porres de cerveja, cachaça ou vodka baratas. Benflogin, Bentil, Ciclopégico, Hipofagim, Inibex, benzina e um baseado de vez em quando. Roubou o carro do seu pai. Montou, ou quis montar uma banda meio punk, meio grunge, meio glam. Deu um super amasso (naquele tempo as pessoas davam amassos) naquele gato cabeludo com cara de louco psicopata. E ele nem telefonou no dia seguinte. Você tinha uma camiseta do Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains, Hole, L7, um desses aí. E você achava a voz do Eddie Vedder enlouquecedoramente sexy. Não sei por que motivo a gente ouvia mais o Pearl Jam e gostava mais do Eddie Vedder... deve ser porque naquela época o Chris Cornell estava escondido naquele cabelão sujo. Seus lindos olhos azuis estavam vermelhos. E o seu porte de supermodel estava arqueado, porque o rapaz mal conseguia manter-se em pé.
Então o tempo passou. Você formou-se em alguma coisa que hoje se pergunta se era mesmo a escolha certa. Os amigos da faculdade mudaram de cidade. Tomou um monte de foras, incluindo o daquele ex-cabeludo que nem era assim o mais interessante e que hoje é um advogado de relativo sucesso, com seu terninho bem aprumado e cabelo bem cortado. Assumiu uma porção de responsabilidades. Matriculou-se na academia (se frequentou, são outros quinhentos). Casou talvez. Separou talvez. Encontrou numa balada bem mais light do que as de antigamente aquele ex-namorado tão querido de anos atrás – que horror! Tão gordo e cheio de filhos. Tudo ficou sem graça. Ou com muito menos graça do que naquele tempo em que a única preocupação séria da vida era não ter muitas notas vermelhas e ver seus pais cortarem as suas saídas.
A gente envelhece e a vida perde a cor.
É assim então que entro com a minha teoria de que a solução é apaixonar-se por um rockstar. Lembre-se de como era ser adolescente e acreditar que tudo era possível. Que você era um sonho possível. Nossa arrogância aos dezesseis é deliciosa: seremos a jornalista de cultura mais influente do país; seremos mais cool do que o André Forastieri; jamais ficaremos caretas como os pais; seremos belas, bem resolvidas e bem sucedidas; teremos um apartamento superlegal; um carro bacana e a cada seis meses passaremos férias em Nova Iorque, Paris, Lisboa, Barcelona; teremos um namorado lindo e apaixonado e principalmente, ele será alguém a quem admirar. Tudo isso aos vinte e cinco. Não era mesmo assim?
O que terá acontecido de errado?
Lamento informar: seu corpinho jamais será como era aos dezesseis, mas a cabeça pode resgatar a memória afetiva. Funciona assim: você resgata um daqueles ídolos e apaixona-se por ele.
Escolha um que esteja lindo ainda. Que não tenha virado um velho caído de tanta droga. Alto. Forte. Que viva muito longe de você. Que tenha um fã clube na internet para você poder procurar as fofocas e as fotos mais recentes. Casado (que é para fazer você voltar à realidade em caso de pira total). Com filhos (para o caso de sua loucura ir verdadeiramente longe você chegar a ter um romance com ele- assim você sabe que ele tem outras prioridades na vida). Que tenha cds e dvds sendo lançados para você poder gastar dinheiro com isso. Ah: turnês! Turnês são muito importantes; fundamentais eu diria. Assim você pode programar sua viagem de férias e fazê-la coincidir com o show do cara em Los Angeles. Assista MTV, fuce em sebos de cds. Procure versões, regravações, participações especiais de seu amor platônico em todos os lugares possíveis. Compre um som com mp3 para seu carro, coloque tudo o que você encontrar dentro dele e ao sair de casa de manhã para o seu trabalho chato vá cantando aos berros sua música preferida. Procure seus traços naquele mocinho meia boca que está de olho em você e que depois de umas três caipirinhas sabe que é parecido? Nem fique triste se aquele bobão que está só te enrolando não te der bola. Afinal, falta muito arroz com feijão para ele chegar perto de seu rockstar. Ganhe dinheiro e siga o cara pelo mundo. Se não encontrá-lo, ao menos viajou bastante e conheceu um monte de gente bacana. Arrume-se. Vista-se. Passe perfume. Vá a academia. Depile-se. Faça tudo como se aquele amor platônico pudesse acontecer a qualquer momento.
Talvez (ou muito provavelmente) você nunca irá encontrar o tal sujeito, mas certamente não será pega desprevenida quando um amor de verdade aparecer.
Tente. Funciona.
Eu particularmente sugiro o Chris Cornell. Ele preenche todos os requisitos acima citados e além de que – para o caso de sua obsessão estar indo um pouco além dos limites da razão- tem um irmão igualzinho a ele, bem menos famoso, acessível e solteiro, vivendo em Nova Iorque, onde tudo pode acontecer. Hahaha.