quinta-feira, junho 08, 2006

E agora, Mané? 2

Vou botar fogo nessa merda. Nem entro no salão imperial e vou direto ao banheiro. Arranco com cuidado a tampa que protege o magna-rolo de papel limpa cu. Há opções vartiadas mas opto pelo trivial arrancar fitas longas e amassar em bolas fofas (precisa ser fofa senão o inflamar é dificultado. Não tem nada de gay nisso). Encho o lixo e depois vou amontoando sobre o vaso. Outro vaso. Este está mais limpo que o de casa. Dona Margarida cuida bem da privada alheia. Não dá pra dizer o mesmo da própria. Chegar perto da moça é o mesmo que adentrar os pântanos perdidos de Shungaróvia, onde a merda perdeu-se das pregas.
Tendo organizado minha fogueira dionisíaca, acendo o isqueiro e aproveito a chama pra inflamar meu belo e branco cigarro. Por vezes penso que Freud enlouqueceria fundo estes polacos mal-dotados. Alemães gostam de morenos avantajados, isso é de conhecimento geral. Bem sabe o Camargo, meu chefe e feitor. Diz que é casado e ninguém nunca viu a mulher. Diz que come todas e nunca avançou nas estagiárias. Fala que é macho mas quando toma café estica o mindinho. Viado, só pode ser.
Aproximo a chama dos papéis afofados quando sou obrigado a me interromper. Merda. Não a minha, mas a de alguém que entra apressado no banheiro e quase arranca minha porta antes de conseguir uma vaga ao lado. O barulho vem acompanhado daquele cheiro de quinze defuntos apertados dentro de um fusca. Se fosse no cinzeiro seria piada de judeu. Se fossem elefantes seria outra piada. Mas não vem ao caso. Hoje eu não estou pra rir. Muito menos pra sofrer. Penso se devo apagar o isqueiro. Pode ser que o ambiente exploda. Gás metano em excesso.
- Wilson, você não tinha parado de fumar?
- E você não tinha parado de comer essas merdas de noite? Ninguém aguenta seus peidos de feijão.
- Eu gosto de tex-mex.
- Então muda pra fronteira e vai viver com o Cormac McCarthy.
- Quem?
Gerson é um songa monga de tanga mas é meu amigo. Apago o isqueiro e jogo fora o cigarro e vou até a pia. Lavo as mãos e me olho uma vez mais no espelho. As olheiras continuam ali. Preciso para com os esportes solitarios. Apesar da satisfação de sempre vencer, tem o negativo que sempre pratico mais do que devia. Não uso cuecas slip por isso. Judia das assaduras.
- Cara, ontem eu fui num restaurate do caralho. Tinha um monte de menininha de olho do papai aqui.
- Elas não estavam de olho em você. É que sua barriga ocupa toda a paisagem.
- Que é isso. Estou de regime. Já perdi dois quilos desde a semana passada.
- Pena que perdeu da barriga pra bunda.
- Vai almoçar onde?
- Estava planejando comer em casa. Mas um idiota me atrapalhou.
- Vamos comer na churrascaria no Centro Civico? Na Devons?
- Vamos no Recanto Gaúcho. É mais barato e tem menos babacas.
- A gente se encontra no estacionamento. Meio-dia.
- Onze e meia.
Coloco o paletó no encosto da cadeira e olho para a tela do computador. Consulto a memoria e vejo que andaram mexendo. Odeio isso. Devem ser os estagiários. Se gostam tanto assim de pornografia, porque não pesquisam a deles?
Puxo alguns processos pra perto do monitor e abaixo a cabeça. Se tiver sorte, ninguém percebe que esotu dormindo. Se tiver azar, estou trabalhando demais mesmo.
Johnny me acorda chacoalhando meus ombros.
- Filha-da-puta! Vai incomodar a mãe!
- O prédio tá pegando fogo, cara. A gente precisa sair.
Na rua, fico sabendo que tudo começou no banheiro.
- É esse pessoal que fuma escondido - digo. Ainda bem que parei de fumar. Essa merda mata.
Chamo Gerson e vamos para o centro passear e tomar um sorvete e depois comer uns doces na Confeitaria das Famílias. Correr perigo me dá fome.

E agora, Mané?

Levantei e joguei as cobertas no chão. Com os pés protegidos pela lã macia, fui me arrastando até o banheiro. Mijei fora do vaso. Se ali houvesse uma palmeira, estaria seca e morta faz séculos. Me encarando no espelho do armário, acendi um cigarro. Não fiquei vemelho e meus olhos continuaram caídos e pesados de olheiras. Realmente não pretendo parar de fumar; muito menos de beber. Cuspo pela janela e fica o catarro pendurado na borda do vidro. Eu poderia limpar com o papel higiênico duas fohas extra-macio que meu traseiro pede como sendo essencial ao meu bem estar. Poderia. Passo o pente pelos cabelos e arranco os fios que escapam de mim. Covardes desgraçados. Ratazanas de navio doidos para me abandonar. Jogo todos, com desprezo, no vaso. Se ali houvesse uma palmeira, seria a mais cabeludas das palmeiras. Dou a descarga e passo pasta na escova de dentes. Mexo o troço na boca até parecer um cachorro louco desolado com a própria desgraça. Enxaguo e ao erguer a cabeça xingo a última geração do pedreiro. Como dói acertar o cucuruto na bosta do armário. Poderia ter quebrado o espelho. Mais sete anos de azar. Somando seria 149, no total. Nada mal pra uma manhã sem perspectivas. E ainda tenho que trabalhar e fazer cara de honesto. Qualquer hora desisto e pulo pela janela. Isso se a teia de catarro me deixar. Periga eu ficar preso como uma mosca. Deve ser desesperador. Tanto quanto ir pro escritório encarar aquele bando de idiotas. Acendo mais um cigarro e deito na cama. A lã macia me acomoda como os braços de uma amante carinhosa. Ou pelo menos acho que deve ser assim. Prostitutas não servem como exemplo. Amantes carinhosas... coisa de cinema. Mulheres. Durmo torcendo por um sonho pornográfico. Desde a adolescência não tenho polução noturna, muito menos matutina. Ou talvez seja melhor não. Só tenho um cobertor.
Já traí e fui traído, mas sempre por bons e belos motivos.
Meu pai sempre me pedia para ser honesto apesar dele não dar o melhor exemplo.
A cada ano que passa gosto mais de músicas velhas.
O melhor de minhas viagens acontece em bares e de mesas de refeição.
No momento que notei em mim a fome de amizades suplantar a fome de amor, entendi que estava velho.
Uma amiga me jura que John Wayne era gay porque dava passos curtos com as coxas apertadas.
A grande injustiça é o corpo cansar na medida inversa que a imaginação enriquece.
Que deus sem lógica afirma que o casamento é maior que a vida?
Disputar amantes é entretenimento de homens educados e estimula o desenvolvimento de uma sociedade refinada.
Se as mulheres se equiparassem em inteligência aos homens, seria estupidez da mãe evolução manter machos peludos caminhando sobre a terra.
Ao perceber que a pele de meu corpo se acumulando sobre os ossos força minhas costas a uma curva patética, assumi o banho como atividade diária.
Se ela está cansada de mim, deixo-a em paz e vou dormir.
Casais devem usar banheiros separados para evitar surpresas desagradáveis.
Qualquer jantar em boa companhia me excita e me faz corar. Marylin
Monroe era baixinha, gordinha, tinha voz de galinha choca e mesmo assim era belíssima.
Ensina-me a viver, mostra as duas faces de mim, ou tudo o que eu fui e gostaria de ser.
Às vezes me pergunto se Hollywood não é meu verdadeiro pai.
Deixei de me sentir atraído por adolescentes quando percebi que poderiam ser minhas filhas.
Já fui beijado por homens, mulheres, crianças, padres e de todos, o beijo mais sincero recebi de meu cachorro.
Entre os melhores momentos de minha vida, aqueles que não tenho certeza de ter vivido me causam maiores saudades.
Hoje pela manhã escovei os dentes antes de lavar o rosto e percebi que não fazia diferença.
Minha biblioteca cresceria a olhos vistos não fossem os muitos amigos apreciadores de meus gostos literários.
Evito a estupidez das grandes platéias como o pernil suíno bem temperado teme o vinho branco e gelado.
Livros de auto-ajuda pressupõem o fim da amizade.
A vergonha de pedir refrigerante diet passa quando olho para baixo e não vejo meus pés.
Enquanto leio, sempre suponho estar deixando de lado uma nova amizade.
Um dia quis morrer por amor e quase consegui.
Sílvio Santos e Roberto Marinho descendem de judeus, João Saad de árabes e Edir Macedo é Bispo evangélico: será a televisão a Palestina brasileira?
Ler Lolita me abriu uma ampla porta do inferno.
Sempre deixo sobre o criado mudo uma peça de roupa e chinelos e na gaveta destrancada uma pistola sem a caixa de balas.
Às mulheres, digo que o que mais interessa aos homens são veleidades femininas.
Clark Gable perdeu metade de sua potência sexual não com a idade, mas com o raspar do bigode.
Aos homens digo que às mulheres, o que mais as interessa é nossa capacidade de mentir.
Meus livros mais queridos deixo na cabeceira da cama e na estante do banheiro.
Não quero mais impressionar ninguém; elas que me impressionem.
Corto as unhas uma vez por semana e jogo na privada e dou descarga sem saber se vudu existe ou não.
Leio jornais e aprecio o texto rápido, principalmente se forem ruins.
Brigar por mulheres somente por péssimos motivos.
Me identifico com os personagens e caráter fraco e comportamento covarde.
Adoro meus confrades gays, principalmente os que têm belas amigas.
Casamento era para sempre quando a nossa expectativa de vida era de 30 anos.
Jamais bebo em demasia, antes, desmaio no colo feminino mais próximo.
Nunca sei de quem é o celular que toca.
Ir à praia é expor ao mundo o melhor e o pior de mim, mascarado por uma cobertura de chantilly azedo.
Os heróis morrem pela humanidade bebedora de cachaça e comedora de churrascos de final de semana.

quarta-feira, junho 07, 2006

frases

A maior das crueldades é ver o fundo da caixa de bombons.
Banco serve pra se endividar e sentar.
Poupança serve pra guardar dinheiro e sentar.
Meu carro é velho e o carro velho do meu amigo é antigo.
Nunca calibrei o pneu estepe.
Marisa Monte é mais macho que Marina Lima.
Gasolina acaba.
Já paguei propina para guardas rodoviários.
Já contei quantos biscoitos vêm no pacote.
Dormi em beliche em casa de praia.
Não bebo sucos saudáveis porque coca-cola é mais barato.
Adoro arroz e feijão mas no restaurante por quilo encho o prato de carne.
Queria parar de mentir que gosto de cinema arte.
Se tivesse mais tempo e as férias não fossem tão curtas iria mais ao museu.
Deve significar alguma coisa eu ter gastado mais dinheiro mandando flores para mulheres do que para defuntos.
Ray Coniff é mais macho que Richard Clayderman.
Meu primeiro hambúrguer foi nas lojas Americanas.
Will Robinson e o doutor Smith são mais machos que Batman e Robin.
O que aconteceria se Tony Ramos casasse com a Cláudia Ohana?
Já metei galinhas e frangos, sem fazer diferença de sexo.
Se for pra fumar Free é melhor respirar.
Jack Daniel é mais macho que Fanta.
Detesto a comida fast-food de Santa Felicidade.
Indico a todos os amigos que visitem a feirinha do Largo da Ordem e Santa Felicidade.
Fumei maconha e traguei.
Fumei cigarros e parei de tanto ouvir falar que faz mal.
Bebo socialmente até cair e não incomodar mais.
Consigo ler revistas, livros e jornais enquanto tomo banho de chuveiro.
Se Deus acreditasse em mim eu teria tantas promessas a cumprir que precisaria vender a alma ao diabo.
Acho charmoso charutos e cachimbos nas telas de cinema.
Votei no Lula e colecionava estórias em quadrinhos.
Little Richards é mais macho que Tom York.
Patagônia era a cidade vizinha da Patópolis e Gansópolis.
Nunca aceitei direito minha mãe me proibir de usar o guarda-chuva como pára-quedas.
Meias e cuecas sujas têm vida própria e andam pela casa, aparecendo onde menos espero.
Um pastel de três reais é uma fortuna e o sapato de trezentos uma pechincha.
A manteiga do meu pão já caiu para cima.
Se não fosse o controle remoto eu assistiria menos televisão.
Banco vinte e quatro horas e cartões eletrônicos arruinaram minhas finanças.
Como as pessoas viviam sem celulares?
Vou de carro até a padaria e esqueço o dinheiro.
Juro que saiu sem querer.
Pato Donald é mais macho que o Cebolinha.
Caminho horas no supermercado e acho estafante dez minutos na fila do banco.
Quando consigo, vou até a feirinha do Largo da Ordem e acho um amontoado de gente insuportável.
Jogo na mega-sena e aviso que é um embuste.
Acendo o cigarro, sem olhar para o feto engarrafado.
Quando estou no meio do livro começo outro.
Francisco Cuoco é mais canastrão que Tarcísio Meira.
Acho a coisa mais normal do mundo ler enquanto alivio minhas necessidades básicas.
Odeio tirar a roupa para tomar banho.
Não acredito que o homem foi à lua.
Ainda sou traumatizado por te visto minha mãe pelada.
Evito banheiros públicos.
Melancia é mais sexy que abacaxi.
Digo que não tenho dinheiro para não precisar emprestar.
Sofro de dores na consciência por não dividir o que me sobra.
Acho que limpar o armário é perda de tempo.

frases

Flatulo, arroto, tenho insônia e chulé.
Compro em liquidação e reclamo da qualidade.
Faço promessa e não cumpro.
Abro a geladeira e esqueço de fechar.
Minto que fui ao shopping-center e me perco na rua XV.
Village People é mais macho que Back Street Boys.
Domingo pela manhã durmo até a hora do almoço e segunda-feira reclamo que estou mais cansado que na sexta.
Recebo o salário e me parece uma fortuna.
Prefiro Janet Clair a Miguel Falabella.
Entro em lojas e faço banca de milionário.
Saio das lojas me sentindo o mais bonito dos endividados.
Escovo os dentes e só então lembro do fio dental.
Bebo e acordo de ressaca e olheiras e já não juro nunca mais fazer isso.
Bebo água da geladeira e deixo a garrafa vazia.
Olho para o sexo oposto e não sei exatamente o que me faz gostar tanto.
Algum dia faço a volta ao mundo.

Nelson

A barriga aguda e os joelhos tortos vaticinaram à parteira de que eu viria a ser ladrão e assassino. Minha língua curta e os dedos vampiros levaram meu pai a enterrar viva minha mãe. Meus cabelos ralos afastaram a boa vontade dos professores do orfanato enquanto minha bunda de banquinho me ensinou a dor da amizade. As mãos vermelhas e os olhos fundos comprometiam o ganho com a esmola e a compaixão. Os pés pequenos e as grandes orelhas ocultaram da mulher amada minha existência. A inteligência de cardeal e minha voz de jegue malhado atraíram o interesse de um padre obtuso, hóstias de poucas calorias, vinho batizado e um teto sagrado. Isso até o dia em que o circo me abriu os braços. Hoje, apesar do público cada vez menor, menos curioso, com diminuta capacidade de garantir a perenidade de meu salário, alimento a imensa capacidade de me auto-iludir e a total descrença em um deus paternal rindo desesperadamente daqueles que se crêem melhores que eu e você.
De todas as venturas desta vida, a que escolhi foi viver a vida tendo adiante outras vidas que não aquelas estabelecidas. Como o cavalo manco, prestes a ser suicidado, desacredito das fantasias acolhidas pela mente do homem de arma em punho para fazer real a imagem que tem de um cavalo verdadeiro. Tolo nunca fui, apesar do que estou prestes a escrever.
Não acredito em sonhos impossíveis. Para mim, se é sonho, é possível e deve ser realizado. Talvez ainda jamais conquistado, como o topo da montanha marciana, mas tentado com todas as forças. Acredito que minha morte em batalha sirva mais do que minhas pernas esticadas em uma cama de hotel barato, mais valiosa que um idiota enxergando pela janela o campo chuvoso, mais rico que a residência do sultão adiposo entre sultanas lânguidas de si mesmas. Por escolha sou monge de minhas glórias e celibatário das mulheres que não me viram como ilusão, por pouco tempo presente. Sempre fui miragem para aqueles que se voltam para a vida estática. E agora que morro, não morro feliz pois havia tanto mais a viver e me é impedido. Morro sozinho, olhando o céu escurecido pela falta de lua e estrelas. Morro escrevendo o que poderia ter vivido pois agora me é ceifada a continuação de mim mesmo. Morro com a pena entre os dedos pois esta me é a última ação permitida. Gostaria de ter escrito minhas memórias, gostaria de ter tido filhos belos e valentes, gostaria de tanta coisa que me teria fechado os caminhos da aventura. Morro, infeliz de tanta coisa que mais infeliz me torno. Morro infeliz e mesmo assim, talvez louco de dor, me repito que a infelicidade é o destino das vidas da humanidade e, assim sendo, sou feliz por ter sido lúcido e escolhido a infelicidade que verdadeiramente me fez sentir vivo.

terça-feira, junho 06, 2006

frase do dia

A cultura é um cão adestrado por um surdo-mudo. Funciona a tapas.

O presidente Lula possui diversas qualidades mal aproveitadas. Entre elas, a infinita capacidade de parecer tolo quando a esperteza paira sob suas têmporas.

segunda-feira, junho 05, 2006

Lugares comuns

Ok, você vai me dizer que a conversa é antiga, mas mesmo assim vamos adiante
- é uma conversa antiga.
e tentemos encontrar a verdade no que está oculto pela banalidade
- mais antigo ainda é esse papo de desvelar segredos ocultos pelo véu da ignorância
para começarmos uma boa conversa, capaz de atingir algum resultado prático.
Vejamos, se eu quiser conhecer a Madonna - ídolo do Francisco Neto - com quem eu teria que conversar? Fácil. Com a Maria Theresza, que foi namorada do empresário do Michael Jackson e do Bruce Sprngsteen. Não lembro o nome do cara mas era ele que agendava os shows na Europa. E fazia o mesmo pro AC/DC, Iron Maiden, e por aí vai.
- pra mim é lero.
Mesmo sendo lero, é real.
- Resolveu me responder?
Claro que sim. DE qualquer modo, eu preciso me ouvir pra me dar conta das besteiras que faço. Hoje em dia as pessoas fazem de tudo pra não ofender uma à outra.
- Nisso eu concordo. Tudo bem que o politicamente correto saiu da pauta do dia, mas é irritante mesmo assim. Essa história de paz a todo custpo me cheira a fascismo.
Nem tanto. Só acho que sem conversa não temos avanço.
- Pior. Não temos risadas. O que eu queria mesmo é ter uma bomba.
Cazuza.
- Viu a merda que é. Nem falar o que me vem na cabeça não posso. Semrpe tem um idiota pra dizer quem disse a frase original. Não tem jeito de ser original. Tudo já foi dito.
Acho que não.
- Então diz algo original.
Não disse que era fácil.
- Babaca. Fica quieto que é melhor.
Você está xingando meu dedo direito ou o esquerdo. Quals das mãos que digita.
- Babaca. Vai correr atrás do Lobo Antunes. Vai tentar ser famoso igual o Paulo Coelho. Tenta escrever um besta-seller como o Jô. E do que está rindo?
Besta-Seller é uma sacada.
- Alguém já deve ter tido.
Aí já é cacofonia.
- Vá se foder.
Voltamos aos lugares comuns.

Como fugir da vida real apaixonando-se por um rockstar (para Cínthia)

Quando sua vida estiver sem graça, seus amores tiverem ido embora, suas finanças forem à ruína, seu carro estragar, seu trabalho tornar-se um sacrifício diário, sua avó ligar dizendo que não está nada bem e precisa que você vá atendê-la, sua melhor amiga ficar chatíssima, ou pior, muito mais interessante do que você, seu cachorro estiver carente, seus vizinhos estiverem olhando feio por conta do condomínio atrasado e até o moço que pede trocados no sinal te olhar com um certo ar de piedade, não desanime. Há solução.
Lembre-se de como era ser adolescente nos anos 90. Você vestia calça xadrez e camisas de flanela. Enormes, ambas. Por alguma razão, a tecnologia se encarregava de diminuir o tamanho de tudo, exceto dos tênis. Os tênis eram imensos, inspirados nos modelos dos jogadores de basquete. Usava-se tênis enormes e coturnos desconfortáveis. Você tinha um colar esquisito pendurado no pescoço. Andava com a pasta da faculdade embaixo do braço o dia todo e nem mesmo carregava bolsa - porque bolsa para os grunges era inadmissível. Você protestou em praça pública contra o Collor. Você assistiu a Anos Rebeldes e acreditou pelo menos durante o período da mini-série que poderia mudar o mundo. Achou um clube bem escuro, sujo, fedido e superalternativo e fez dele a sua segunda-casa. Fez uma turma de amigos muito modernos e engraçados. Tomou altos porres de cerveja, cachaça ou vodka baratas. Benflogin, Bentil, Ciclopégico, Hipofagim, Inibex, benzina e um baseado de vez em quando. Roubou o carro do seu pai. Montou, ou quis montar uma banda meio punk, meio grunge, meio glam. Deu um super amasso (naquele tempo as pessoas davam amassos) naquele gato cabeludo com cara de louco psicopata. E ele nem telefonou no dia seguinte. Você tinha uma camiseta do Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains, Hole, L7, um desses aí. E você achava a voz do Eddie Vedder enlouquecedoramente sexy. Não sei por que motivo a gente ouvia mais o Pearl Jam e gostava mais do Eddie Vedder... deve ser porque naquela época o Chris Cornell estava escondido naquele cabelão sujo. Seus lindos olhos azuis estavam vermelhos. E o seu porte de supermodel estava arqueado, porque o rapaz mal conseguia manter-se em pé.
Então o tempo passou. Você formou-se em alguma coisa que hoje se pergunta se era mesmo a escolha certa. Os amigos da faculdade mudaram de cidade. Tomou um monte de foras, incluindo o daquele ex-cabeludo que nem era assim o mais interessante e que hoje é um advogado de relativo sucesso, com seu terninho bem aprumado e cabelo bem cortado. Assumiu uma porção de responsabilidades. Matriculou-se na academia (se frequentou, são outros quinhentos). Casou talvez. Separou talvez. Encontrou numa balada bem mais light do que as de antigamente aquele ex-namorado tão querido de anos atrás – que horror! Tão gordo e cheio de filhos. Tudo ficou sem graça. Ou com muito menos graça do que naquele tempo em que a única preocupação séria da vida era não ter muitas notas vermelhas e ver seus pais cortarem as suas saídas.
A gente envelhece e a vida perde a cor.
É assim então que entro com a minha teoria de que a solução é apaixonar-se por um rockstar. Lembre-se de como era ser adolescente e acreditar que tudo era possível. Que você era um sonho possível. Nossa arrogância aos dezesseis é deliciosa: seremos a jornalista de cultura mais influente do país; seremos mais cool do que o André Forastieri; jamais ficaremos caretas como os pais; seremos belas, bem resolvidas e bem sucedidas; teremos um apartamento superlegal; um carro bacana e a cada seis meses passaremos férias em Nova Iorque, Paris, Lisboa, Barcelona; teremos um namorado lindo e apaixonado e principalmente, ele será alguém a quem admirar. Tudo isso aos vinte e cinco. Não era mesmo assim?
O que terá acontecido de errado?
Lamento informar: seu corpinho jamais será como era aos dezesseis, mas a cabeça pode resgatar a memória afetiva. Funciona assim: você resgata um daqueles ídolos e apaixona-se por ele.
Escolha um que esteja lindo ainda. Que não tenha virado um velho caído de tanta droga. Alto. Forte. Que viva muito longe de você. Que tenha um fã clube na internet para você poder procurar as fofocas e as fotos mais recentes. Casado (que é para fazer você voltar à realidade em caso de pira total). Com filhos (para o caso de sua loucura ir verdadeiramente longe você chegar a ter um romance com ele- assim você sabe que ele tem outras prioridades na vida). Que tenha cds e dvds sendo lançados para você poder gastar dinheiro com isso. Ah: turnês! Turnês são muito importantes; fundamentais eu diria. Assim você pode programar sua viagem de férias e fazê-la coincidir com o show do cara em Los Angeles. Assista MTV, fuce em sebos de cds. Procure versões, regravações, participações especiais de seu amor platônico em todos os lugares possíveis. Compre um som com mp3 para seu carro, coloque tudo o que você encontrar dentro dele e ao sair de casa de manhã para o seu trabalho chato vá cantando aos berros sua música preferida. Procure seus traços naquele mocinho meia boca que está de olho em você e que depois de umas três caipirinhas sabe que é parecido? Nem fique triste se aquele bobão que está só te enrolando não te der bola. Afinal, falta muito arroz com feijão para ele chegar perto de seu rockstar. Ganhe dinheiro e siga o cara pelo mundo. Se não encontrá-lo, ao menos viajou bastante e conheceu um monte de gente bacana. Arrume-se. Vista-se. Passe perfume. Vá a academia. Depile-se. Faça tudo como se aquele amor platônico pudesse acontecer a qualquer momento.
Talvez (ou muito provavelmente) você nunca irá encontrar o tal sujeito, mas certamente não será pega desprevenida quando um amor de verdade aparecer.
Tente. Funciona.
Eu particularmente sugiro o Chris Cornell. Ele preenche todos os requisitos acima citados e além de que – para o caso de sua obsessão estar indo um pouco além dos limites da razão- tem um irmão igualzinho a ele, bem menos famoso, acessível e solteiro, vivendo em Nova Iorque, onde tudo pode acontecer. Hahaha.

O mundo está perto do fim

Hoje percebi que logo seremos tomados pelas trevas. Não o frugal anoitecer, quando a lua toma conta do céu e estrelas descansam ofuscadas pelo satélite acnoso. Estamos na iminência do fim dos tempos, da grande hecatombe (ah, como irão rir os bovídeos e ovinos, durante tantos anos sacrificados em vão), da culminância de todas as existências terrenas
- Como você sabe disso? Quem te contou?
Ninguém me contou nada. Não é preciso. Basta assistir aos noticiários para
- Foi o Willian Bonner, então?
Não, não foi o Bonner
- Então, a Fátima Bernardes. Só não me diz que foi o Boris Casoy que perde todo o crédito. Alguém que diz que tudo é uma vergonha não merece apresentar nada que seja sério.
Não, a informação que tenho vem de outras paragens, de outros aquéns, onde a verdade se encontra com a santidade.
- Faz tempo que o Vaticano perdeu o mérito. Ainda mais a rádio Vaticano. Muito chato.
Vou para de responder. Você não merece ouvir minhas sábias palavras.
- Já sei! Já sei a verdade!
Foste tocado pelo dedo divino?
- Sai que sou espada!
Então a que se refere?
- A luz!
Sim, a luz! Ela salva e purifica.
- Mas se não for paga, leva qualquer um às trevas.