Não sinto sono e não estou cansado. Acendo um charuto e não estou embriagado. Tiro a camisa e as cicatrizes não desapareceram.
sexta-feira, março 30, 2007
quarta-feira, março 28, 2007
Tantas lembranças me fazem lembrar que tudo o que se acumula não traz peso às minhas costas mas ainda assim me faz curvar tanto que meu nariz toca o cheiro úmido da terra e me escorro no ranho que me dita que eu ainda tenho em mim algo de imprestável, de doente e de lamentável que um dia você acusou de ter mais que apenas ter e de ser e por isso a acusação te parecia mais ofensiva pois entre ter e ser estava a infinita leveza do imponderável feito o destino do qual não se escapa e no fim da jornada afundamos na terra úmida para eu sozinho ser carcomido pelos vermes brancos feito sementes de goiaba e aquele pano de prato – lembra-se? – ao lado da estante caída e dos livros espalhados ao redor do fogão e, sabe de uma coisa? Até hoje não entendo porque ficavam os livros também no congelador, refrigerando páginas de poesia ardente de todos os amores e todos os desesperos que você foi acumulando em sua vida e experimentando e me pondo medo pois tuas experiências deviam ser mais legais que as minhas e isso as tornava mais atrativas para uma repetição, um retorno ao passado onde eu não estava e você era mais feliz e mesmo assim eu queria tanto estar lá apenas para observar o corpo de teu corpo descendente na esteira do colchão para o cobertor e o edredom de ursinho que um dia tua mãe sussurrou em meu ouvido eu jamais poderia tocar ou sentir ou me esconder pois minha carne era veneno para ursinho e para teus olhos tão profundos e cheios de vigor quanto aquela fonte no meio da cidade, onde minhas mãos e meu sexo podiam afundar até se dar conta que nunca mais queria estar fora do mundo afogado de teus líquidos úmidos os quais meu nariz tocava e minha língua podia sentir aquilo que você tanto dizia – pare, por favor, pare antes que meu amor desapareça na loucura de te querer mais do que quero tua imagem e se eu quiser teus ossos, teus músculos, posso esquecer teu espírito e, assim, quando nos afastarmos o que restará de ti para eu mastigar e desejar?