sexta-feira, junho 01, 2007

Chovendo. Sensei na única cadeira, da única mesa incapaz de ser molhada pelas gotas finas. Muitas gotas finas e frias que, de tanto rspigarem nas poças recém-formadas, acabaram por molhar meus sapatos e a barra da calça. Finalmente levantei e fui até a sala fechada. Vidros na parede esquerda e meus olhos procurando algo no cinza. Pensei em um filme, nas fotografias mal tiradas e no reflexo.Duas imagens sobrepostas

(alguém diz na mesa ao lado que a mulher do saci é a mais feliz de todas, se leva um é na bunda quem cai é o marido e eu penso que a mula-sem-cabeça é a mulher mais feliz por nunca levar chifre)
acendo o charuto - já havia acendido - e vou dando bafoiradas aos pares. Uma para o vento; outra para meu paladar. A lígua escorrendo envolta pela fumaça aprisionada e a ferida na parte de dentro da boca ardendo. Poderia ser grave; ou não.

Você entende o que significa o estado de torpor? Aquele momento derrisório, onde alma e espírito desabam sobre si mesmos e nos damos contas que não apenas o que nos cerca é volátil - o que eu já sabia desde a infância, quando descobri a miopia - mas tudo, inclusive este selfo que se manifesta nos sentimentos afogados de si mesmo.

(alguém na mesa ao lado comenta que abundância é um palavrão que ofende mulheres de bom gosto e mal senso pra alimentos; eu penso que a idade está me engordando)

Passo a caixa de fósforos para uma garota de olhos alegres e rosto chupado. Algo aconteceu entre a ginástica e o acordar que a tornou assim, patética, mas por isso mesmo capaz de um estranho tipo de beleza. Como todas. Todas essas meninas com jeito de sapatilhas - e não são todas? - de mãos dadas e beijos e abraços e discrições e a terna vontade de chamar a atenção ou de mostrar a felicidade incinerante que povoa seus corações.

Quando apago o charuto, aperto-o com firmeza no cinzeiro de cobre e espero que mais nada reste das folhas compostas e de mim, na sala repleta de mais mulheres e mais sorrisos e mais rostos chupados e abundantes formas de incapaz beleza, fica o cheiro forte de quem deveria ter partido antes e ficou um instante a mais, pra mais uma baforada, pra mais fumaça, pra ter certeza que a diluição de si é total na tarde que esvai.
Um carro enorme, maior a cada instante e o instante se quebra em milhares de instantes e então constato que é verdade. O momento final é o mais longo de todas as existências que me padeceram
(volta e meia parece que as coisas andam sem se mover. Como o tempo de querer e o tempo de dormir. Uma somatória de medos e descansos. Cada instante tem um nome e cada nome uma missão. Parece que é assim)
É isso, eu me escuto de corpo estatelado e pernas curvadas em uma dobra impossível e assim eu sei que nunca mais vou caminhar
(olhando pelo teto de vidro encontro nuvens escuras e outras névoas que me dizem que nada daquilo que tenho, tenho realmente. Associado a tanto, consigo entender que as palavras perdem o sentido. E é exatamente isso. As coisas perdem o sentido. Finalmente vejo que tudo o que faço tem muito pouco sentido)
Alguém que eu vejo distante - poucos metros - acena e dita um riso que me preenche o peito e avisa à namorada amada que tudo aquilo que foi dito na noite anterior não foi verdade e que agora apenas é motivo de riso e eles riem tanto que sinto que devo rir se tiver tempo antes do pára-choque acertar meu queixo
(nada de cansaço, nada de desânimo ou depressão. Apenas cosntato que as coisas perderam o brilho e que por isso mesmo, tudo tem mais brilho. Algo tão fulgurante que ofusca meu entender e perco a vontade de seguir adiante apenas por seguir. É preciso um objetivo. E é isso que estou à procura. Um objetivo)
E havia tanta coisa entre minha carne e meu osso antes do som de tudo se espatifanto e tornando-se cacos de mim entre as migalhas de minha consci~encia e ela sorri e o beija antes de perceber o som dos freios e da borracha queimando o asfalto
(Meu dus, como eu não queria morrer nunca mais...)

terça-feira, maio 29, 2007

Sampaio, o cartunista, se pergunta o motivo que leva os sapos serem carecas e as perecas, cabeludas. Bom, a reposta pode ser a longa língua do anfíbio ou, menos dualista, o nicho de mercado representado pela peruca verde e impermeável.
Uma pequena amostra de minha voracidade consumista é como ando pelas ruas e, sem olhar vitrines ou bundas passageiras, sei que nada mudou no reino da brasilidade e, mesmo assim, minha carteira resume meu sequisapiu a dez reais e alguns centavos de fome por bolinhos de bacalhau.